quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Os OVNI's que vi

OVNI é uma sigla para Objeto Voador Não Identificado. Não é necessariamente um sinônimo para disco voador, nave espacial ou coisas do tipo. E no céu limpo de Trindade é possível ver uma variedade de fenômenos naturais e artificiais, desde o que julgávamos serem satélites, até meteoros (estrelas cadentes). Como frequentemente passávamos a noite vagando por alguma praia colhendo dados sobre a desova das tartarugas, estávamos sempre testemunhando esse tipo de coisa. O que estou relatando a seguir são as avistagens atípicas que não consegui classificar e considerei como "não identificados", apenas isso. Não estou afirmando que meus OVNIs eram de origem alienígena. Vou descrever as avistagens em ordem cronológica, mas não tenho como afirmar a data da maioria delas. Ocorreram entre fevereiro e abril de 2008, que foi o período de minha estadia. A Ilha da Trindade é famosa por um famoso caso de avistagem de um suposto UFO, e eu acredito que o céu limpo realmente favoreça a avistagem de fenômenos que normalmente seriam vistos com menor intensidade e frequência no continente. Existem argumentos a favor da veracidade do UFO de Trindade (link 1 e link 2) e existem argumentos muito bons alegando que tudo não passou de uma fraude do fotógrafo Almiro Baraúna (link Wikipédia). Mas se você estiver em uma praia em Trindade à noite e testemunhar um fenômeno atípico desses, com certeza vai preferir preservar sua saúde mental e se agarrar aos argumentos mais céticos. Foi o que fiz até hoje. Quem tiver experiência em astronomia e quiser compartilhar informações comigo sobre possíveis explicações para os fenômenos que testemunhei, pode deixar sua contribuição nos comentários ou me enviar um email: felipoe.mayorga@gmail.com 



1 - A primeira avistagem na Praia do Túnel

A Praia do Túnel possui areias vermelhas, águas esverdeadas e é protegida por um paredão que remete a uma paisagem lunar. O monitoramento noturno das desovas de tartarugas é chamado de "carebada". Portanto, estávamos "carebando" nesse dia eu e Daniel Filgueiras, os únicos civis. Era uma época inicial de nossa estadia, então muita coisa na ilha ainda nos era misteriosa e impressionante. Sempre em certa altura da madrugada, nós nos revezávamos no sono; enquanto um cochilava o outro carebava. Então em certo momento eu peguei um de meus turnos de sono e me ajeitei em meio a algumas rochas da interface Parcel-Praia do Túnel. Fiquei sentado meio que com as costas apoiadas na rocha, de frente para o paredão do Túnel, admirando o céu, cochilando, acordando, e cochilando (nessa época inicial minhas costas ainda não tinham adquirido o formato das rochas, e eu achava tudo muito desconfortável). Eram as primeiras semanas na Ilha da Trindade, mas eu já estava habituado aos meteoros e satélites.

Repentinamente, uma luz amarela se acendeu poucos metros acima do túnel, e caiu, atrás dele. Foi bizarro. Fiquei apavorado. Mergulhei em numerosas hipóteses tentando encontrar uma explicação. A minha descrição do fenômeno (e a imagem abaixo) traduzem o que eu vi e senti. É lógico que essa luz poderia estar a quilômetros de distância, e ser um fenômeno natural. Mas a intensidade dela, a cor, a forma como surgiu, e a velocidade com que caiu (uma velocidade assustadoramente devagar, meio que caindo com a gravidade) me deixaram atordoado. Parte de mim vasculhava memórias para encontrar uma explicação cética, enquanto a outra parte ficava de olho na praia, aguardando a iminente aproximação de possíveis seres extraterrestres. Fui tão impactado por esse acontecimento que não lembro se Daniel também viu. Lembro que conversamos sobre isso, mas não lembro o teor das conversas. Não lembro se ele ria de mim ou se também tinha visto e estava impressionado. Se ele disser que também viu, ainda assim eu não me lembro sobre o que conversamos. Fiquei muito perturbado com essa avistagem. E no POIT, ninguém deu muita bola pro meu relato. Riram de mim.




2 - A segunda avistagem no POIT

Era uma semana de muita chuva e nós não saímos para carebar à noite por ser perigoso. Ficamos várias noites restritos ao perímetro do POIT. Certa noite, durante uma breve estiagem, eu caminhava até o rancho, passando próximo a um marinheiro que eu conhecia como Cabo Jesus. Em uma janela de céu estrelado em meio às nuvens, a minha conhecida luz amarela cruzou o céu, em uma velocidade singelamente lenta demais para ser um meteoro, e rápida demais para processarmos a informação. A janela nas nuvens era pequena, e a luz rapidamente saiu de nosso campo de visão. O Cabo Jesus virou-se pra mim com a testa franzida e perguntou "Você também viu isso?". Eu confirmei, perplexo, mas Cabo Jesus aparentemente achou o caso apenas curioso, deu de ombros e seguiu seu caminho. Essa avistagem foi meio ridícula, e me deu a sensação de estar sendo observado. Nos dias seguintes os militares brincavam comigo: "Quer dizer que o Tartaruguinha tá vendo luzes por aí" "O que é que você tá fumando aí, Tartaruguinha?"



3 - A avistagem na Praia das Tartarugas

Poucos anos antes, em minha adolescência, eu costumava ir a uma praia pouco iluminada de Vila Velha - ES e empinar uma pipa americana enorme com meu pai e meu irmão. O detalhe é que nós amarrávamos uma lanterna de plástico nessa pipa para tentar causar algum espanto às pessoas que caminhavam no calçadão. Algumas vezes, para variar, cobríamos a luz da lanterna com plásticos translúcidos vermelho, amarelo, verde...

Foi praticamente isso que eu e Daniel testemunhamos e filmamos na Praia das Tartarugas na noite de 18 de março de 2008 (data das propriedades do vídeo). Uma luz que se movia vagarosamente com intensidade variável (em geral fraca) e que não seguia em linha reta, mas parecia ter um trajeto irregular. Era realmente como se um militar brincalhão estivesse do outro lado dos morros, na Praia do Andrada, empinando uma pipa com uma lanterna amarrada para nos assustar. A avistagem foi tão demorada que tivemos tempo de ligar a câmera e filmar. A melhor parte da história é que também tivemos tempo de informar o POIT pelo rádio algo como "Estamos vendo uma luz esquisita aqui na Praia das Tartarugas, vocês conseguem ver daí?"e receber de resposta "Hahah escuta isso aqui Fulano, os tartarugas estão doidões lá na praia". Mais uma vez, a montagem gráfica abaixo representa o que eu pensei ver. Mas não posso descartar a possibilidade de que a origem dessa luz estivesse a muitos quilômetros de distância da Ilha, parecendo próxima por ilusão de ótica. De qualquer forma, foi a partir desse dia que ficamos meio que com fama de maconheiros doidões para os militares do POIT.


O vídeo eu acho meio ridículo e com jeitão de fake, tenho vergonha de assistir hoje em dia. Minha narração estragou tudo, mas o caso é que era minha terceira avistagem, e eu já havia acumulado numerosas discussões com Daniel sobre essas luzes. Palavras esdrúxulas como "bruxuleante" já estavam na ponta da minha língua. A câmera que fez esse registro ufológico escuro e tremido (até aí tudo normal) era algo como uma Sony Cyber-shot S90.





4 - A avistagem na Praia do Andrada

Quando o Navio Hidrográfico Sirius veio nos buscar para o retorno ao continente, ficou três dias fundeado para a faina de transferência de equipamentos, alimentos, etc. O "Cachorrão" trouxe também ainda algumas moças do 1 Distrito Naval e toda a Ilha ficou animadíssima. Em uma dessas noites os militares queriam que as levássemos para testemunhar uma desova de tartaruga (e eles juntos urubuzando, lógico). Mas a temporada estava no fim e cada vez subiam menos tartarugas, às vezes uma por noite, o que dificultava muito flagrar esse tipo de atividade. A Praia do Andrada é perto do POIT, porém é toda margeada por recifes, então as tartarugas precisam de maré alta para chegar à areia sem muitos ferimentos. Portanto, tudo jogava contra a empreitada.

Por sorte, muita sorte, conseguimos proporcionar a visão desse espetáculo da natureza para a comitiva. Enquanto todos estavam emocionados comentando sobre a desova da tartaruga, repentinamente cruzou o céu uma luz amarela muito rápida, meio que ricocheteando e formando um "W". A comitiva foi à loucura; ao menos cinco ou mais pessoas testemunharam isso comigo. Esse OVNI, em particular, eu consigo apostar ser um meteoro ricocheteando na atmosfera terrestre. Lembro de comentários sobre isso num filme de ação espacial qualquer; o personagem cientista da NASA explicava que dependendo do ângulo que a nave dos heróis entrasse na atmosfera, poderia ricochetear como uma pedra atirada na superfície de um espelho dágua. Não lembro que filme era esse, nem sei se isso é verdade - astrônomos de verdade, me ajudem. Mas foi a explicação que encontrei e aceito até hoje. Até mesmo por causa da velocidade rápida, uma característica ausente em minhas avistagens até então. Abaixo, minha representação artística do evento.





5 - A segunda avistagem na Praia das Tartarugas

Em minha penúltima noite na Ilha da Trindade eu estava um tanto depressivo, antecipadamente nostálgico, e decidi vagar pela Praia das Tartarugas sozinho pra me despedir da paisagem (é proibido vagar sozinho pela Ilha, mas todos estavam distraídos babando nas moças do 1 Distrito Naval). Uma vez lá, olhei para um dos morros, bem o que faz frente com o mar, e decidi o escalar até o topo. Nunca havia ouvido falar de alguém subindo nele, e não existia trilha para ir a pé de maneira civilizada. Mesmo assim eu subi, abraçando as rochas como um calango. Cheguei ao topo e contemplei toda a parte rasa do mar que arrebenta na Praia das Tartarugas iluminada pela lua; era possível ver os recifes abaixo da linha dágua. Uma vista fantástica. Me senti muito grato por ter conseguido visitar a Ilha da Trindade, me senti grato por ser um animalzinho lutando pela vida nesse mundo perigoso. Me senti ligado ao mar; queria ficar mais tempo na Ilha, mas pelo visto não ia acontecer. Já haviam chegado os dois civis que iriam substituir (render) eu e Daniel. Era mesmo a minha última aventura na Ilha.

Eu estava escutando músicas melancólicas com fones de ouvido, em clima de despedida. Desci desse morro e vaguei pelo deserto arenoso da Praia das Tartarugas, onde nenhuma tartaruga havia subido nessa noite, ouvindo minhas músicas. Como estavam caindo muitos pirajás (aquela chuva repentina e rápida), eu vestia uma capa de chuva, com o capuz cobrindo a cabeça. Foi quando percebi meu último OVNI, devagar e de luz oscilante, vindo do oeste, já ao amanhecer. O céu já estava com uma cor azulada, o sol logo irromperia. A impressão que eu tinha é a de que o OVNI estava muito perto, praticamente sobre a areia da praia das Tartarugas, passando por mim, indo em direção ao mar. Isso aconteceu muito devagar, eu fiquei admirando o desgraçado do OVNI por um bom tempo, até ele sumir no horizonte leste. Mais uma vez: é lógico que ele poderia estar a quilômetros da Ilha. Eu é que tive a impressão de que ele estava perto, mas não tenho certeza disso. Uma coisa engraçada desse OVNI é que a cor dele parecia mais esbranquiçada, talvez até azulada. Não era amarelão como os outros. A trajetória dele mais uma vez não era retilínea; ele seguia uma trajeto discretamente ondulado. A luz também variava de intensidade, sutilmente. Com o capuz da capa de chuva na cabeça eu havia perdido toda a minha visão periférica, e tinha muito medo de virar para trás e dar de cara com um ser extraterreno. Então tudo o que eu podia fazer era ficar olhando o maldito OVNI e fingindo ser um ser humaninho corajoso sozinho da Praia das Tartarugas. Se na minha vida eu tive medo de ser abduzido, foi nesse dia. Enfim, o OVNI desapareceu no horizonte, e não tinha nenhum humanóide cinza na praia comigo. Voltei ao POIT pra tomar o café da manhã que voltou a ser disponibilizado a nós, desde a chegada do Sirius.

1 - Eu todo macho gritando "sou o rei do mundo!" no topo do morro.
2 - Eu todo borrado pensando "Deus, não deixe eu ser abduzido" enquanto avistava o OVNI. 



MINHAS TEORIAS DO QUE PODEM SER ESSES OVNIS

Na realidade eu ainda não tenho certeza nenhuma do que podem ser as causas dessas luzes que eu vi (exceto o W do meteoro que ricocheteou). Mas levantei algumas possibilidades:

1 - DRONES militares brasileiros. Isso mesmo, na época eu nem conhecia essa palavra, eu falava sobre possíveis "aeromodelos não tripulados" pras pessoas com quem conversava sobre isso. Talvez os militares estivessem testando drones da Ilha da Trindade, mas não podiam contar pra nós, civis. A única imagem de drone que eu tinha em mente na época eram aqueles com formato de caça, brancos, que os EUA usavam em seus "ataques cirúrgicos" no oriente médio.

2 - DRONES estrangeiros. Tá cheio de navio chinês pescando ao redor de Trindade e Martim Vaz. Por que não?

3 - FENÔMENOS NATURAIS locais. Talvez haja uma explicação para isso. Eu cheguei a discutir com pessoas sobre a possibilidade de serem aves em grandes altitudes refletindo a luz do sol que para nós, já estava além do horizonte. Mas é uma explicação muito improvável, diante do comportamento dessas luzes. E eram coisas com emissão própria de luz, não eram coisas refletindo luz.

4 - BALÕES METEOROLÓGICOS. Como o POIT liberava balões meteorológicos o tempo todo, eu imaginava se eles não retornariam murchando e perdendo altitude, refletindo a luz do sol além do horizonte (terraplanistas discordarão), resultando nessas avistagens. Li um pouco sobre como funcionam esses balões, e como estouram antes de retornar, e concluí que nenhuma avistagem se aplica a eles. E mais uma vez, essas coisas emitiam luz própria.

5 - UMA PIPA COM UMA LANTERNA AMARRADA. Pode ser que alguns militares tenham se divertido bastante às nossas custas. Mas essa técnica seria impossível de ser feita atrás do Túnel, na minha primeira avistagem.

6 - SINALIZADORES. Discuti sobre essa possibilidade com as pessoas, mas o comportamento dos OVNIs da Ilha da Trindade não é compatível. Anos depois, no continente, testemunhei à noite um tiro de sinalizador de emergência, e realmente não tem nada a ver uma coisa com a outra.

7 - AERONAVES COMERCIAIS. Discuti bastante sobre essa possibilidade com todos, militares, pessoas no continente, como meu pai... "Será que um avião vindo da África não passa por aqui, não?" - "Nããão" foi a única resposta que obtive de 100% dos entrevistados. A Ilha da Trindade não está em rota nenhuma. Porém, em janeiro de 2018 eu estava em meu quintal, no continente, e vi exatamente um OVNI de Trindade, amarelo, na mesma velocidade, cruzando o céu do meu bairro. Enquanto ele vinha em minha direção, era exatamente igual a um OVNI de Trindade. Quando passou por cima de mim, escutei o motor, muito baixo. E quando me deu as costas, indo em direção ao aeroclube (pra minha decepção), vi as luzes acessórias piscando. Exceto o primeiro OVNI da Praia do Túnel, que simplesmente surgiu no céu e caiu (e o meteoro W da penúltima avistagem), os demais se pareciam exatamente com aviões comerciais, porém sem emitir som e sem luzes acessórias piscando.

8 - FENÔMENOS NATURAIS espaciais. Não sou nenhum especialista em astronomia; talvez um estudante de primeiro semestre dessa ciência tenha explicações banais para essas avistagens que me assombram até hoje.